O simbolismo dos Reis Magos é amplo e emprestam-lhes os exegetas as
mais diversas interpretações. Estão ligados intimamente
às festas do Natal e deles nasceu, praticamente, a tradição
do Papai Noel, pois os presentes dados nessa ocasião reproduzem que
os magos do Oriente, depois de cumprida a rota que lhes indicava a estrela
de Belém, prestaram a Jesus na gruta onde ele nascera.
As referências bíblicas são vagas e o episódio
quase passa despercebido dos evangelistas, mas as contribuições
da tradição patriática são muitas e, como elas
têm força de fé e verdade, nelas devemos buscar grande
parte das coisas que se contam dos santos Belchior, Gaspar e Baltazar já
referidos pelos profetas do Velho Testamento, que vaticinavam a homenagem
dos Reis ao humilde filho de Davi que deveria nascer em Belém.
De onde vieram e o que buscavam, pouca gente sabe. Vinham do Oriente e Baltazar,
o mago negro talvez viesse de Sabá (terra misteriosa que seria o sul
da Península Arábica ou, como querem os etíopes, a Abissínia).
Simbolizam também as três unicas raças bíblicas,
isso é, os semitas, jafetitas e camitas. Uma homenagem, pois, de todos
os homens da Terra ao Rei dos Reis.
Eram magos, isto é, astrólogos e não feiticeiros. Naquele
tempo a palavra mago tinha esse sentido, confundindo-se também com
os termos sábio e filósofo.
Eles prescrutavam o firmamento e sentiram-se chocados com a presença
de um novo astro e, cada um deles, deixando suas terras depois de consultar
seus pergaminhos e papiros cheios de palavras mágicas e fórmulas
secretas, teve a revelação de que havia nascido o novo Rei de
Judá e, que ele, como soberano, deveria, também, prestar seu
preito ao menino que seria o monarca de todos os povos, embora o seu Reino
não fosse deste mundo.
O simbolismo dos presentes
Conta ainda a tradição que, ao chegar a Canaã, indagaram
os Magos onde havia nascido o novo Rei de Judá. Essa pergunta preocupou
Herodes, que hoje seria considerado um quisting a serviço dos romanos,
e que reinava na Judéia.
Os representantes do Império preocupavam-se com o aparecimento de
um novo lider do povo de Israel. A revolta dos macabeus ainda não fora
esquecida e o povo oprimido esperava, ansioso, pela vinda do Messias que iria
libertar o Povo de Deus e cumprir a palavra do salmista: "Disse o Senhor
ao meu Senhor senta-te à minha direita até que ponho os teus
amigos como escarbelo aos teus pés".
Os magos procuram conforme conselho de Herodes o novo Rei para render-lhe
homenagem e para informar o representante romano do lugar onde nascera o Messias
a fim de, com falso preito, sequestrá-lo.
No presépio encontramos apenas os animais e os pastores e, inspirados
pelo Espírito Santo, curvaram-se diante do filho do carpinteiro de
Nazaré e depositaram, ao pé da mangedoura que lhe servia de
berço, os presentes: ouro, incenso e mirra, isto é prendas que
simbolizavam a realeza, a divindade e a imortalidade do novo Rei, e grão
de areia que cresceria e derrubaria o ídolo de pés de barro
(simbolo das grandes potências que se sucederam no domínio do
mundo), do sonho de Nabucodonosor decifrado pelo profeta Daniel.
Símbolos da humildade
Na tradição cristã os três Reis Magos simbolizavam
os poderosos que deveriam curvar-se diante dos humildes na repetição
real do canto da Virgem Maria à sua prima Isabel, e "Magnificat",
pois sua alma rejubilava-se no Senhor, que exaltaria os pequenos de Israel
e humilharia os poderosos.
A igreja cultua os Reis Magos dentro desse simbolismo. Representam os tronos,
os potentados, os senhores da Terra que se curvara diante de Cristo, reconhecendo-lhe
a divina realeza. É a busca dos poderosos que vêem em Belchior,
Gaspar e Baltazar o exemplo de submissão aos designios de Deus e que
devem, como os magos, despojar-se de seus bens e depositá-los aos pés
dos demais seres humanos, partilhando sua fortuna como dignos despenseiros
de Deus.
Os presentes de Natal também têm esse sentido. São as
ofertas dos adultos à criança que com a sua pureza representa
Jesus. Alguns, dão a essas festas um sentido mitológico pagão,
buscando nas cerimônias dos druidas, dos germânicos ou saturnais
romanas a pompa das festas natalinas que culminam com a Epifania.
A Bifana
A palavra epifania, usada também como nome de mulher, deu origem a
uma corruptela dialetal do sul da Itália, levada depois a Portugal
e Espanha, a Bifana. A Bifana, segundo a lenda, era uma velha que, no Dia
de Reis , saía pelas ruas da cidades a entregar presentes aos meninos
que tivessem sido bons durante o ano que findara. Estava intimamente ligada
às tradições dos povos mediterrâneos e mais próxima
do significado litúrgico das festas natalícias.
Os presentes eram somente dados no dia 6 de janeiro e nunca antes. Tanto
assim é, que nós mesmos, no Brasil, na nossa infância,
recebíamos os presentes nesse dia. Depois, com a influência francesa
e inglesa em nossas tradições a Epifania ou Bifana foi substituída
pelo Papai Noel, a quem muitos estudiosos atribuem uma origem pagã
e outros, para disfarçar o sentido comercial da sua presença
no dia de Natal, confundem com São Nicolau.
Hoje, o Santos Reis já não são lembrados. O presépio
praticamente não existe e só neles é que podemos ver
os Magos de Oriente apresentados. A árvore de Natal, pinheiro que os
druidas e os feutos enfeitavam para agradar o terrível deus do inverno
Hell, substituíria a representação do nascimento de Jesus,
introduzida no costume dos povos por São Francisco de Assis.
A festa da Epifania, dia de guarda no calendário litúrgico,
já não mais é respeitada e com ela desaparecerem outras
tradições da nossa gente, trazidas da Peninsula Ibérica
pelos nossos antepassados, como a folia de Reis, Reizados e tantos outros
autos folclóricos, cultuados em poucas regiões do país.
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